Registro da performance
colagem digital de fotografias impressa em tela 100% algodão, madeira, pregos e pregadores
SURFACE performance register
photography digital collage on 100% cotton canvas, wood and nails
Ação: Desenhar as letras S U P E R F Í C I E em meu corpo
Meio: Máquina elétrica rotatória de tatuagem, agulha nº5 e tinta vermelha
Suporte: Região interna da coxa direita
A palavra superfície, marcada em minha pele afirma a existência e o caráter da pele enquanto superfície propriamente – tanto como suporte para o desenho quanto como membrana superficial – que ela é. Ao desenhar a palavra, me refiro ao que não esta na superficie, ao que não está escrito, ao que não pode ser visto nem tocado. Refiro-me ao espaço interior que a pele abriga, à parte fundamental sem a qual uma superfície não existe, não passa de um conceito teórico.
A palavra formada tem origem latina (super = acima / facie = face, forma, aspecto) e, portanto, refere-se à face que fica acima, aquela que confere a forma e o aspecto das coisas. Se uma superfície é a face de cima, ela pressupõe a existência de níveis abaixo dela, de camadas adentro, de uma interfície. Assim como dentro e fora, superfície e interfície são indissociáveis.
A agulha vem de fora, rompe a superfície rumo à uma camada mais profunda da pele, onde irá depositar o pigmento. Rasga a pele, faz um corte e preenche-o de vermelho como a carne. Diferentemente de desenhos ou pinturas em que o pigmento se deposita na superfície do suporte, em tatuagens o desenho se faz abaixo da superfície da pele, de maneira que a técnica de tatuar e a significado denotado entram em conflito, pois é de maneira não superficial que a palavra SUPERFÍCIE é marcada na superficie do meu corpo. Técnica e significado juntos corporificam a própria dualidade entre superficial e profundo, matéria e não-matéria, corpo e espírito.